segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Museu da Tortura

A maioria conta as grandes façanhas mas nunca falam nada das histórias em que se deram mal. Como sou mais sincero que médico de UTI vai ai uma história onde fui um babaca.

Estava em Sam Marino uma cidade-pais encravada no meio da Itália. A parte histórica da cidade é na verdade uma grande fortaleza medieval no topo de uma montanha. Para chegar lá pequei uma estrada sinuosa com penhascos assustadores e lindos. Até um ponto onde tive de deixar o carro em um estacionamento e continuei subindo, desta vez em modernos elevadores todo de vidro (tipo o avião da Mulher Maravilha). Assim que sai do elevador o tempo pareceu retroceder 500 anos. Uma imensa muralha, toda de pedra cerca a cidadela. No alto, aberturas para arqueiros e canhões lembram os castelos que crescemos vendo nas histórias. Atravessei um pesado portão guardado por um soldado com um uniforme pra lá de fresco. Do lado de dentro uma casa a esquerda ostentava uma placa dizendo que Garibalde se refugiara ali, a direita numa construção sem muitas pretensões estava o Museu da Tortura.

O Museu estava totalmente vazio, só havia uma mulher muito educada gorda e feia que me recebeu com num inglês com forte sotaque italiano. Ao lado dela uma linda loura permanecia calada e retraída, numa postura bastante passiva. Obvio que minha mente fértil viajou na mesmo hora. Imaginei logo que a dona do museu fosse uma Domme das mais cruéis e a lourinha uma sub tensa e cheia de espectativas, esperando eu ir embora para iniciar os castigos.

Enquanto a sub permanecia como se fosse um abajur a Domme me falava sem parar sobre o museu e seu acervo. Me explicou, que não era um museu completo, se detinha apenas à idade média, mas fez questão de explicar que este foi o período de maiores suplícios. Em um tom que era quase como se desculpasse, me explicou que alguns dos objetos se destinavam a matar a vítima e não apenas castigar. e eu cheio de “Yes, I enderestend” e louquíssimo para entrar no assunto BDSM. Perguntar se praticantes procuravam o museu, se alguem havia feito seções ali, se elas estavam esperando alguém ou se eram um “casal”, perguntar se poderíamos fechar o portão para “conversarmos mais a vontade” (Ualll!!!)

Ou:

Ou o Museu era ideia de uma Ong católica para mostrar como podem morrer os pecadores que ousam pensar em alguma forma de sexo diferente de papai-mamãe? Será que a loura era uma representante do Papa encarregada de identificar pessoas indecentes e deportar acorrentado para ser submetido a uma cerimonia de exorcismo nos porões do Vaticano??? (medo)

Entre um destes dois extremos estava a verdade, e eu só conseguia imaginar uma forma de descobrir: Perguntando.

Sabem o que aconteceu?
Absolutamente nada. :(
Não falei nada sobre o assunto.

A minha timidez que já se manifesta em português ganha força quando o idioma muda. Percorri tudo sozinho, tirei foto de tudo e dei por encerrada a visita.

Sai daquele calabouço que era o museu com uma sensação de poder ter perdido uma ótima oportunidade, mas por outro lado com a liberdade para imaginar o que quisesse. (risos)

Concluo com um conselho e um pedido: Se forem a San Marino visitem o museu e perguntem se rola um BDSMzinho básico. Mas por favor, se rolar não me conte.